crembrulê

‘escreva sobre crembrulê’, desafiei. ‘sim, escrevo!’

Havia a intenção de abrir o tópico gastronômicos neste site com uma crônica que fosse interessante e talvez diferente. “Sobre o que poderíamos escrever?” Então surgiu o desafio: “escreva sobre crembrulê!” Esse aportuguesamento soou estranho a princípío, mas funcinou: “eu escrevo!”

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O “crembrulê” talvez dispense apresentações por ser uma das sobremesas mais famosas da culinária francesa. Ou deveria dizer — uma das mais deliciosas! E por que? Porque mais do que uma simples receita de sobremesa, é uma experiência gastronômica.

Os ingredientes para uma porção padrão incluem cinco gemas, 100 ml de leite, 350 ml de creme de leite fresco, meia xícara de chá de açúcar, uma colher e meia de chá de extrato de baunilha e açúcar suficiente para o caramelo. Eu talvez devesse apresentar como uma lista itemizada, mas vamos avançar logo para o que realmente interessa.

Ao ser desafiado a escrever sobre algo tão magnífico como esta sublime sobremesa francesa, o “Crème Brûlée”, foi como tentar capturar o sol em palavras. É um desafio agridoce, um convite irresistível a descrever os sabores, aromas e sensações que envolvem essa iguaria.

Como preparar? Primeiro, separar as claras das gemas e dispensar as claras. Depois, colocar as gemas na tigela pequena da batedeira, juntar açúcar e bater em velocidade alta. O resultado deve ser um creme claro. Então, adicionar o creme de leite, o leite e a essência de baunilha e misturar com uma colher. Essa mistura deve descansar por 10 minutos.

Enquanto isso, levar uma panela com água ao fogo alto, para um banho-maria. E acionar o forno a temperatura média baixa, cerca de 160°C a 180°C, para preaquecimento.

Retirar, cm uma colher, a espuma que se forma na superfície da mistura de gemas. Distribuir o creme em seis tigelas que possam ser levadas ao forno. Essas tigelas devem colocadas em uma assadeira retangular. Essa assadeira deve receber a água fervente, para que os cremes nas tigelas assem em banho-maria. Assar por 40 minutos.

Ao final desse prazo, as tigelas devem ser deixadas para esfriar e levadas ao refrigerador por cerca de seis horas. Quando servir, polvilhar açúcar sobre toda a superfície do creme. Com um maçarico, flambar o açucar polvilhado sobre a superficie do creme.

Como sempre, ao estar sentado diante do papel em branco, sinto uma angustiante mistura de empolgação e apreensão. Como posso transmitir a essência do Crème Brûlée através da palavra escrita? Afinal, é uma experiência gastronômica — é uma experiência que vai além do paladar, envolvendo todos os sentidos em uma dança harmoniosa.

A primeira camada desse desafio é tentar traduzir o sabor do Crème Brûlée em linguagem. Imagine a doçura delicada do creme de baunilha, com notas suaves e reconfortantes dançando na língua. É como se a própria baunilha se derretesse em uma sinfonia de prazer gustativo, acariciando cada papila com sua doçura irresistível.

Mas não podemos esquecer da segunda camada: o contraste entre a cremosidade e a quase inaudível crocância. A colher afunda na superfície caramelizada e encontra a resistência do açúcar quebrado, uma explosão de textura que complementa perfeitamente a suavidade do creme. É uma sinfonia de sensações em cada colherada.

Como descrever a fragrância celestial que se desprende do Crème Brûlée quando a crosta de açúcar é quebrada? É um perfume encantador, que nos envolve como um abraço caloroso, nos transportando para uma confeitaria parisiense em um instante.

Enquanto tento encontrar as palavras certas, percebo que o desafio de escrever sobre Crème Brûlée é mais do que descrever sabores e texturas. É sobre capturar a magia e a paixão que os confeiteiros colocam em cada criação, a dedicação e a maestria que transformam ingredientes simples em uma experiência sensitiva múltipla extraordinária.

A cada frase que escrevo é uma jornada de autodescoberta, uma dança delicada entre as palavras e a memória de sabores que marcaram minha alma.

E assim, com a caneta tocando o papel, sigo nessa jornada de escrita, explorando as nuances, os detalhes e a poesia oculta no Crème Brûlée. É mesmo que seja um desafio agridoce, existe a beleza que reside no processo — de um lado o preparo e de outro a degustação — na tentativa de capturar um pouco da magia que se esconde por trás dessa sobremesa tão singular.

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Sobre quem escreve

Doutor em Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto (com tese sobre complementaridade espacial de recursos renováveis), Mestre em Recursos Hídricos, professor (e atualmente vice-diretor) do IPH da UFRGS.
Contato pelo email risso@iph.ufrgs.br