a revolução necessária para as energias renováveis

O mundo depende dos combustíveis fósseis e as energias renováveis constituem uma alternativa para um mundo melhor, com menos impactos ambientais e maior sustentabilidade. Mas qual revolução seria necessária para que as energias renováveis substituam os recursos não renováveis? O mundo poderia usar apenas energias renováveis?

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O mundo depende dos combustíveis fósseis (especificamente do petróleo) e ainda dependerá deles por muito tempo. As energias renováveis, por outro lado, constituem uma alternativa para um mundo melhor, com menos impactos ambientais e maior sustentabilidade. Mas por que não vemos o mundo definitivamente abrindo mão do petróleo? Qual revolução seria necessária para que as energias renováveis substituam os recursos não renováveis? Além disso, o mundo poderia usar apenas energias renováveis?

As energias renováveis correspondem a fluxos de energia presentes na natureza, como a energia hidrelétrica, a energia eólica, a energia solar e várias outras. Se a humanidade não se aproveitar desses fluxos para seu proveito, eles seguirão existindo. Os meios tecnológicos para converter energia a partir desses fluxos naturais vêm apresentando uma evolução permanente ao longo das últimas décadas.

Os recursos finitos, ou não renováveis, por sua vez, correspondem ao petróleo e seus derivados, ao carvão, ao gás natural, entre alguns outros ainda. Esses precisam de ação humana para serem convertidos em energia. Os meios para converter energia a partir desses recursos naturais também seguem apresentando evolução tecnológica, principalmente para permitir que sejam consumidos com cada vez menos impactos ambientais.

A energia hidrelétrica foi a primeira fonte de energia renovável a ser empregada em larga escala. Em meados do século XIX, quando também surgiram as primeiras redes de transmissão e distribuição de eletricidade, foram construídas as primeiras usinas hidrelétricas. Com o tempo, apareceram também usinas hidrelétricas de grandes dimensões, com grandes reservatórios, atendendo ao crescimento da demanda por energia elétrica.

Os ventos já eram empregados para acionamentos mecânicos há alguns séculos. Mas apenas nestas últimas décadas, com o surgimento de grandes turbinas eólicas, com dezenas de metros de diâmetro e dezenas de metros de altura, inseridas em extensas fazendas eólicas, é que se consolidaram como alternativa para suprimento de energia aos grandes sistemas interligados.

A energia solar também pode contribuir para fornecimento de eletricidade e para aquecimento de água e de ambientes fechados. O Sol é o grande motor da maioria das energias renováveis no planeta. Porém, a radiação solar pode ser aproveitada de modo direto. Nessa modalidade, entretanto, a quantidade de energia disponível se mostra bastante limitada, mas os preços de equipamentos de conversão de energia vêm despencando nos últimos anos.

Com a redução dos custos dos painéis fotovoltaicos e o consequente crescimento da demanda por esses módulos, a energia fotovoltaica passou a ser considerada como importante alternativa para geração distribuída em ambientes urbanos, instaladas sobre telhados de casas e prédios. Também pode contribuir em sistemas híbridos, instalada sobre estruturas flutuantes sobre a superfície de água em grandes reservatórios.

Além dessas alternativas, ainda há a energia disponível nos oceanos, presente na forma de ondas oceânicas, tanto próximo ao litoral quanto em locais mais afastados, em alto-mar, a energia de correntes oceânicas e a energia de variações de nível e de velocidade provocadas pelas marés. E há a energia em gradientes térmicos, também em oceanos, em alguns locais específicos, e em locais com atividade vulcânica, além de algumas outras alternativas ainda.

Mas então qual é a revolução necessária para que as energias renováveis sejam adotadas em ampla escala?

Houve um movimento de centralização

Uma característica das energias renováveis é que elas fornecem energia em menores concentrações, se comparadas aos suprimentos que podem ser obtidos com recursos não renováveis. Enquanto as energias renováveis são capazes de fornecer (em instalações com pequenas e médias dimensões) potências da ordem de 300 Watts por metro quadrado, as energias não renováveis podem fornecer até 100 kW (ou 100.000 Watts) por metro quadrado.

As energias renováveis, portanto, se prestam melhor ao uso descentralizado, tendo assim um efeito obviamente descentralizador sobre as sociedades nas quais estiverem inseridas. Os recursos não renováveis, pelas suas características, apresentam um efeito social de caráter fortemente centralizador.

De certo modo, esse efeito já aconteceu no século XX no Brasil. Ao longo do século anterior, várias regiões do país receberam imigrantes de diferentes origens. Esses imigrantes trouxeram consigo conhecimentos técnicos para aproveitar energia hidráulica, em moinhos d’água, para preparação por exemplo de farinha. Esses moinhos foram sendo abandonados com a chegada das linhas de transmissão, trazendo eletricidade barata e com melhor qualidade que os suprimentos de energia anteriores. Houve, portanto, um efeito centralizador provocado pela adoção da energia fornecida pelo sistema interligado.

Agora é necessário executar uma revolução no sentido contrário!

Agora é necessário descentralizar

Com novas e melhores tecnologias, com o domínio de técnicas de gerenciamento, com uma conectividade entre as pessoas nunca antes disponível na história da humanidade, é necessário provocar um movimento migratório das grandes aglomerações metropolitanas para pequenos e médios centros urbanos e para comunidades rurais.

Assim será possível aproveitar melhor os recursos renováveis, tanto para suprimento de energia quanto para influenciar as sociedades nas quais estiverem inseridos, causar menores impactos ambientais e promover o desenvolvimento econômico com maior inclusão social.

Assim será possível também aproveitar melhor os recursos não renováveis, que seguiriam disponíveis como fontes de energia em situações de emergência e servindo como matéria-prima para a produção de produtos plásticos, com diversas aplicações nobres, como plásticos, lubrificantes, fertilizantes, asfalto, etc.

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Esta crônica abre o livro Energias renováveis, velharias clássicas e uma certa obsessão positiva, publicado pela Editora Metamorfose em novembro de 2021.

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Sobre quem escreve

Escritor com livro de crônicas publicado em 2021 e livro de contos em 2022. Doutor em Engenharia, professor da UFRGS e pesquisador do CNPq em energias renováveis. Editor convidado em livro publicado pela Academic Press.
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