lua cheia

o lado escuro do Pink Floyd e a exploração da Lua pela Índia

Os últimos dias viram surgir boas notícias sobre a recente façanha do programa espacial indiano, que levou uma sonda ao pólo sul da Lua. Mas por que essa gana de ir ao espaço com tantos problemas ainda a serem resolvidos por aqui? E por que falam em lado escuro da Lua?

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Esse nosso mundo anda estranho, não é mesmo? A Índia dos call centers e de Bollywood está lançando sondas espaciais e pretendendo explorar outros corpos celestes. Semanas atrás, os Emirados Árabes também apareciam nos noticiários por conta de uma sonda espacial lançada em uma missão para Marte. Mas por que essa corrida pela exploração espacial?

Alguns motivos podem ser listados. Investimentos em indústria aeroespacial estão entre aqueles com os retornos mais elevados, pelo alto valor agregado. Entrar agora, nos primeiros movimentos dessa “corrida espacial” vai certamente garantir assentos privilegiados logo ali mais adiante.

Um dos principais motivos é certamente a exaustão das reservas de alguns minerais na Terra. Muitos componentes raros e importantes para a indústria de eletrônicos, por exemplo, já foram localizados em asteroides. Lançar-se ao espaço interplanetário neste momento, trabalhando para dominar tecnologias de pouso em asteroides e exploração de seus minérios garantirá acesso privilegiado a esses recursos naturais nas próximas décadas.

O Brasil mantinha um programa espacial e, com exceção de satélites, não parecia pretender algo mais. Até uma base de lançamentos, muito bem localizada, nós tínhamos. Por que não seguimos em frente? Foi por falta de recursos financeiros? Ou por decisões em favor de projetos com maior prioridade?

O Brasil tem muitos problemas sociais, como tantos outros países, inclusive como esses países que estão embarcando nessa competição espacial. O Brasil também tem muitos investimentos em ciência e tecnologia, com um sistema de ensino e pesquisa de alto nível, entre os países que mais publicam artigos científicos no mundo.

Existem diferenças entre os PIBs dos países citados aqui. A China tem um PIB de pouco mais que cinco vezes o PIB da Índia, que por sua vez já tem um PIB que é quase o dobro do PIB brasileiro. Mas em um mercado que envolve altas cifras e com a posição privilegiada do Brasil, próxima da linha do Equador, um programa espacial poderia render lucros e, no mínimo, se pagar. A base de Alcântara – sim, o Brasil já teve um base de lançamento de satélites – poderia prestar serviços a outras nações. A Agência Espacial Européia costuma lançar seus foguetes da Guiana Francesa.

A bem da verdade, a base está operando. Uma notícia recente informa que um foguete sul-coreano foi lançado dali neste ano de 2023. Mas certamente o programa carece de investimentos. (Uma violenta explosão ocorrida vinte anos atrás destruiu a base de lançamentos e trouxe perdas irreparáveis ao programa brasileiro.)

E por que a Lua? Pela sua proximidade da Terra e por servir como plataforma para lançamentos secundários, para outros planetas e para asteroides.

Por que pousar uma sonda no pólo sul da Lua? Claramente pela propaganda que essa conquista geraria ao redor do mundo (e que trouxe notoriedade ao programa espacial indiano). E porque a manobra para pouso no pólo não é simples, demonstrando competências. E também porque várias pesquisas localizaram água em estado sólido facilmente acessível naquela região.

E o que o Pink Floyd teria a ver com tudo isso? É que o disco lançado pela banda inglesa em 1975, The dark side of the moon, talvez tenha induzido um lapso nas informações veiculadas sobre o assunto. Os noticiários têm se referido ao pouso da sonda indiana no lado escuro da Lua. A Lua não tem “lados escuros”, porque em seu movimento ao redor da Terra, e de ambos ao redor do Sol, ela tem todas as suas faixas longitudinais iluminadas pelo Sol.

Entretanto, como ela oferece sempre uma mesma face para a Terra, ela teria o que poderíamos denominar como um lado oculto para a Terra. E, de fato, essa face oculta foi descortinada apenas quando as primeiras sondas soviéticas passaram por lá. Pouco depois, também os norte-americanos fotografaram e mapearam o lado oculto, nas viagens de preparação para o pouso que aconteceu em 1969. (Alguns ainda duvidam disso, mas essa é outra história!)

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Sobre quem escreve

Escritor com livro de crônicas publicado em 2021 e livro de contos em 2022. Doutor em Engenharia, professor da UFRGS e pesquisador do CNPq em energias renováveis. Editor convidado em livro publicado pela Academic Press.
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