quais carros aparecem nas listas dos dois ’60 segundos’?

Sim, foram dois filmes! Um deles, de 2000, tinha Nicolas Cage e outros astros no elenco. O outro, de 1974 (quase cinquenta anos atrás, portanto!), era menos ambicioso e se tornou um clássico. Ambos contavam com roteiros que eram uma justificativa apenas para o desfile de belos carros.

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Os dois filmes têm em inglês o mesmo título – Gone in sixty seconds – relacionado com o tempo necessário para roubar um carro qualquer. Em português, ’60 segundos’. Abrir a tranca da porta, esgueirar-se para seu interior, fazer uma ‘ligação direta’ (ou seja, aplicar um ‘by pass’ na ignição e dar partida no motor) e levar o carro. Apenas no primeiro filme esse tempo era algo importante; no segundo filme, quase não aparece citado.

O filme de 2000 foi uma refilmagem, foi dirigido por Dominic Sena e contava com uma belíssima fotografia em tons alaranjados. (Algum especialista vai dizer que os filmes todos utilizam paletas em azul ou em âmbar – e assim por diante – mas vamos relaxar e aproveitar o entretenimento.) O astro desse filme foi um Mustang Shelby de 1967, denominado como Eleanor. (É isso mesmo – este é aquele filme que os carros deveriam ser roubados e eram identificados por nomes de mulheres.)

O filme de 2000 era precedido por um filme anterior. Talvez em um paralelo, o personagem principal já havia sido um ladrão de carros e agora tentava levar uma vida honesta. Seu irmão se arrisca no crime e se dá mal, não conseguindo atender o pedido de um cliente sul-americano. Então o ladrão-mocinho Memphis Raines deve voltar à ativa apenas para mais este serviço: salvar a vida do irmão!

No passado, um roubo mal-sucedido levou Memphis à decisão de mudar de vida. Ele se safou por pouco da cadeia e havia decidido aproveitar a oportunidade. Esse “infortúnio” envolvia um Mustang Shelby 1967 – agora seu “unicórnio” – como aparece no diálogo do video abaixo. Enquanto seus parceiros localizam carros para atender a lista de roubos que seu irmão não tinha conseguido cumprir, ele visitava um Shelby. Ele se concentrava para logo mais, em algumas horas, voltar e levá-lo.

Quando Memphis retorna ao local onde Eleanor está estacionada, a trilha sonora cria um clima de ‘segunda chance’. Como todo bom roteiro, apesar do mocinho ser um bandido, o espectador acaba torcendo pelo seu sucesso. Sem querer contar spoilers, a verdade é que a pobre Eleanor acaba sendo quase destruída. O irmão do mocinho é salvo e o malvado do filme, ‘quem coloca’ o irmão do mocinho em apuros, é revelado e preso. Tudo termina bem!

Uma ótima cena do filme mostra o ladrão-mocinho Memphis Raines se passando por um empresário novo na cidade e buscando um carro que o diferenciasse. Então falam em uma Ferrari 275 GTB!

– My name’s Roger, sir. May I be of some help?
– That’s funny, my name’s Roger. Two Rogers don’t make a right.

– Roger, I have a problem.
– Yes?
– I’ve been in L.A. for three months now. I have money, I have taste. But I’m not on anybody’s “A” list, and Saturday night is the loneliest night for the week for me.
– Well, a Ferrari would certainly change that.
– Perhaps, mmm. But, you know, this is the one. Yes, yes yes… I saw three of these parked outside the local Starbucks this morning, which tells me only one thing. There’s too many self-Indulgent wieners in this city with too much bloody money! Now, if I was driving a 1967 275 GTB four-cam
– You would not be a self-indulgent wiener, sir… You’d be a connoisseur.
– Precisely. Champagne would fall from the heavens. Doors would open. Velvet ropes would part.

Além de Eleanor, a lista encomendada ao irmão de Memphis incluía outros quarenta e nove carros. A lista de carros do “60 segundos” com o Mustang Shelby apresenta a lista completa (e suas respectivas denominações). Desses cinquenta carros, vinte e um eram anteriores a 1975 e vinte e dois eram quase novos na época, acima de 1998. Alguns Aston Martins, alguns Cadillacs e algumas Ferraris entre eles.

O filme de 1974 era menos pretensioso e estava inserido em um período em que as câmeras portáteis estavam mais disponíveis, os dublês eram mais numerosos e baratos e as perseguições de carros por ruas de grandes cidades se multiplicavam em filmes de cinema e em seriados de TV. E talvez além de alguns nomes de personagens e do bandido-malvado ser um sul-americano, sem contar um Mustang (mesmo que de outro modelo) como estrela, pouco existe em comum entre os dois filmes.

O video acima mostra trechos da perseguição final. Essa perseguição de carros bem ao gosto do público norte-americano ocupa parte importante do filme, quase quarenta minutos de um total de uma hora e quarenta e cinco minutos. Cenas reais sem efeitos especiais, câmeras portáteis (mas nem tanto e que por vezes aparecem “desapercebidas” nas cenas) e dublês para algumas cenas, além de figurantes formando a multidão que acompanha os eventos narrados na história.

A lista do filme de 1974 somava quarenta e oito carros, que também foram denominados por nomes de mulheres. Nem era parecida com a lista citada na refilmagem. Contava entretanto com vários carros realmente clássicos, até por ter sido elaborada no início dos anos 70. Mais Cadillacs,algumas Ferraris, nenhum Aston Martin e mais clássicos europeus.

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Esta crônica discute temas abordados em Energias renováveis, velharias clássicas e uma certa obsessão positiva, publicado pela Editora Metamorfose em novembro de 2021.

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Sobre quem escreve

Escritor com livro de crônicas publicado em 2021 e livro de contos em 2022. Doutor em Engenharia, professor da UFRGS e pesquisador do CNPq em energias renováveis. Editor convidado em livro publicado pela Academic Press.
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